Ele, cartógrafo experiente, lembra de seu primeiro contato com mapas artesanais: rabiscos em papel vegetal traçando rios e montanhas. Hoje, esse cenário mudou radicalmente. Neste artigo, o leitor vai conhecer como são feitos os mapas atualmente, passo a passo, e por que cada detalhe importa. Além de apresentar noções de cartografia e projeções — como a projeção cônica —, o texto traz um panorama da evolução da cartografia, ilustrando a diferença entre como os mapas eram feitos antigamente e o rigor dos processos modernos.
1. O que é cartografia e por que ela importa?
A cartografia é o conjunto de técnicas usado para representar lugares e paisagens da realidade, principalmente através dos mapas. Esses documentos auxiliam desde planejamento urbano até estudos ambientais e logísticos. Saber “mapas o que são” vai além da definição: envolve entender que, por trás de cada mapa, há um longo processo de observação, coleta de dados e edição.
2. Observação da realidade “de cima”
2.1 Aerofotogrametria: a base dos mapas modernos
Hoje, a pergunta “como são feitos os mapas?” começa com a aerofotogrametria. Essa técnica engloba a obtenção de fotos aéreas — muitas vezes complementadas por imagens de satélite — que fornecem a base visual para todo o trabalho cartográfico. No IBGE, por exemplo, não são realizados voos próprios; em vez disso, adquire-se fotografias aéreas de alta resolução e imagens orbitais, garantindo precisão desde o início.

2.2 Ortofoto e correção geométrica
As fotos “como vieram do avião” apresentam distorções: curvatura da lente, relevo e perspectiva. Por isso, realiza-se a correção geométrica, resultando na ortofoto ou ortofotocarta — imagens retificadas que mantêm escala e ao mesmo tempo mostram fielmente a paisagem. Esse produto intermediário já permite medir distâncias reais e traçar elementos iniciais.

3. Trabalho de campo e pontos de controle
3.1 Apoio de campo
Para garantir que cada ponto no mapa tenha coordenadas precisas, faz-se o apoio de campo. Cartógrafos vão ao terreno e medem, com GPS em modo relativo, centenas de pontos de controle. No Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 300 pontos são medidos em área piloto, com meta de 1.500 para toda a cidade.
3.2 Triangulação
Em paralelo, usa-se a triangulação: três estações em pontos com coordenadas já conhecidas formam um triângulo de base. Em torno e dentro dele, outros pontos são medidos, “transportando” coordenadas para áreas mais amplas, com precisão milimétrica.
4. Aerotriangulação e densificação de pontos
No gabinete, especialistas realizam a aerotriangulação. Com o auxílio de fotogrametria digital, identifica-se, na tela, os mesmos pontos medidos em campo para densificar a malha cartográfica. Assim, obtém-se coordenadas indiretas para milhares de pontos, reduzindo o trabalho de campo e mantendo alta precisão.
5. Do pixel ao vetor: a restituição cartográfica
5.1 Visão estereoscópica versus monoscópica
O processo de restituição transforma imagens em dados vetoriais. Na visão estereoscópica, o operador usa óculos especiais e vê relevo e profundidade, navegando “como se estivesse lá”. Já na visão monoscópica, tudo ocorre em uma única tela, sem acessórios, mas com software que facilita a digitalização dos contornos de rios, estradas e edificações.
5.2 Software CAD e convenções cartográficas
Com programas CAD especializados, o restituidor traça símbolos padronizados — cidades, florestas, cursos d’água — aplicando convenções cartográficas. Curvas de nível, por exemplo, são geradas automaticamente a partir da estereoscopia, indicando altitudes com clareza.
6. Regulação: nomes e detalhes finais
Após a montagem inicial, inicia-se a regulação. Cartógrafos voltam ao campo para verificar mudanças e coletar topônimos com moradores mais antigos: “toca da onça”, “Fazenda dos Pimentas” e outros nomes locais são confirmados por meio de entrevistas. Elementos específicos, como a altura de chaminés de usinas desativadas, são registrados para usos diversos — desde navegação aérea até estudos históricos.
7. Editoração e montagem final
No setor de editoração, aplica-se diagramação e revisão. Símbolos, legendas, escala gráfica e projeções — como a projeção cônica, ideal para países de grande extensão latitudinal — são ajustados. Na projeção cônica conforme, por exemplo, mantém-se ângulos locais, o que é fundamental para mapas temáticos de uso em meteorologia e geologia.

8. A evolução da cartografia
Desde os desenhos de mapa do Brasil no século XVI, feitos com instrumentos rudimentares, até as imagens de satélite de altíssima resolução de hoje, a cartografia evoluiu de maneira impressionante. As noções de cartografia passaram de simples plantas desenhadas à mão para fluxos de trabalho digitais integrados, que unem sensores remotos, fotogrametria e sistemas de informação geográfica (SIG).
Exemplos práticos
- Mapas de uso do solo urbano: utilizam aerofotogrametria e SIG para planejar expansões habitacionais.
- Mapas marítimos: exigem projeção conforme para navegação segura, corrigindo a curvatura terrestre.
- Mapas turísticos interativos: combinam ortofotos e dados vetoriais em aplicativos móveis.
Perguntas Frequentes
Qual a diferença entre ortofoto e fotografia aérea bruta?
Fotografias aéreas brutas mantêm distorções de perspectiva. A ortofoto é a mesma imagem, mas retificada geometricamente e georreferenciada, permitindo medições precisas.
Por que usar projeção cônica em certos mapas?
A projeção cônica conforme preserva ângulos, tornando-a ideal para regiões que se estendem em latitudes médias, como o sul do Brasil.
O que é aerotriangulação?
É o processo, realizado em gabinete, que identifica pontos de controle em fotos aéreas para densificar a malha de coordenadas usando fotogrametria digital.
Como eram feitos os mapas antigamente?
Antes da aerofotogrametria, usava-se a observação direta com teodolitos e réguas, além de registros manuais no campo, resultando em desenhos menos precisos.
Para que serve a etapa de regulação?
A regulação garante que nomes locais e detalhes recentes sejam conferidos no terreno, mantendo o mapa atualizado e culturalmente preciso.
Com esse passo a passo, compreende-se como são feitos os mapas atualmente e se valoriza a complexidade que vai desde noções de cartografia até a aplicação final das convenções cartográficas. A evolução desse ofício mostra que, hoje, cada mapa é fruto de ciência, tecnologia e cuidado humano — um verdadeiro retrato da nossa realidade geográfica.