No Brasil: A Evolução de uma Tradição Inventada
Atualizado em: 22 de Junho de 2025
Por Que Comemoramos em Agosto?
Em 1953, o publicitário Sylvio Bhering (do jornal O Globo) teve uma ideia genial: criar uma data para aquecer as vendas no segundo semestre. Escolheu 16 de agosto, dia de São Joaquim (avô de Jesus), e a data se espalhou como fogo! Hoje, é a 4ª data mais lucrativa do comércio brasileiro, movimentando R$ 25 bilhões anualmente.
A história do Dia dos Pais no Brasil é um fascinante caso de "engenharia de calendário". Diferente da maioria dos países, nossa data não foi importada, mas sim concebida internamente com um propósito claro. Essa origem pragmática, no entanto, não impediu que a celebração evoluísse e ganhasse profundas camadas culturais.
1. Do Provedor Distante ao Pai Presente
A publicidade, sendo o berço da data, é o melhor espelho de suas transformações. Campanhas antigas focavam no pai provedor, a figura de autoridade. Hoje, marcas como Natura e O Boticário lideram uma mudança de narrativa, apresentando um pai cuidador, emocionalmente conectado e presente em todas as formas de família, incluindo pais trans e adotivos. Essa mudança não é apenas marketing; ela reflete e reforça uma aspiração social por uma nova masculinidade.
🔎 Análise do Especialista
Há uma desconexão interessante: a publicidade vende a narrativa do "pai que cuida", mas a prática de consumo ainda privilegia presentes de uso individual (roupas, perfumes). Isso sugere que, embora a *ideia* de paternidade esteja mudando, o *ato* de presentear ainda está preso a modelos mais antigos. A narrativa cultural evolui mais rápido que o comportamento de compra.
2. O "Dia de Quem Cuida de Mim"
O ambiente escolar é outro palco central desta evolução. Com mais de 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai no registro, a celebração tradicional tornou-se fonte de exclusão. Em resposta, muitas escolas adotaram o "Dia da Família" ou "Dia de Quem Cuida de Mim". Essa adaptação é um reconhecimento poderoso de que o amor e o cuidado, não a biologia, definem uma família, tornando a celebração mais inclusiva e representativa da realidade brasileira.