9 de Julho e a Revolução na Educação: Legado da Revolução de 32 nas Escolas Paulistas
Saiba como a Revolução Constitucionalista de 1932, marco do feriado de 9 de julho em São Paulo, transformou a educação no estado, desde as mudanças curriculares até a forma como o tema é abordado nas escolas.
A Influência da Revolução Constitucionalista na Educação em São Paulo: Da Luta Armada à Sala de Aula
O feriado de 9 de julho em São Paulo, Dia da Revolução Constitucionalista de 1932, marca um evento crucial na história do estado e do país. Mais do que um levante armado pela reconstitucionalização do Brasil, a Revolução de 32 deixou um legado profundo na educação paulista, desde as mudanças curriculares até a forma como o tema é abordado nas escolas.
A participação de crianças nos bastidores da Revolução de 1932
A participação de crianças nos bastidores da Revolução de 1932 foi marcada por diversas formas de colaboração e apoio aos combatentes paulistas. O texto destaca os seguintes exemplos:
- Zeferina Púpio de Oliveira César: Aos dez anos, ajudava seus pais a distribuir café, cigarros e comida para os soldados que passavam pela estação de trem de Pindamonhangaba. Além disso, auxiliava em pequenas costuras nas roupas dos combatentes.
- Julio Couto: Com 14 anos, trabalhou no S.A.T.O. (Serviço de Aprovisionamento de Tropas em Operações), no mercado de onde eram transportados suprimentos para Campinas. Também atuou como mensageiro e ajudou nos armazéns da Estrada de Ferro na Barra Funda.
- Conrado Serafim Blasi: Serviu no Batalhão Infantil de Botucatu como estafeta, responsável por distribuir correspondência, incluindo cartas enviadas pelos soldados a seus familiares.
Esses exemplos ilustram como crianças de diferentes idades e em diferentes locais contribuíram para o esforço de guerra nos bastidores da Revolução Constitucionalista. Seus relatos mostram a mobilização e o engajamento da sociedade paulista em diversas frentes durante o conflito.
MMDC: biografia de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, conhecidos pela sigla MMDC, foram quatro jovens mortos em 23 de maio de 1932 durante uma manifestação em São Paulo que pedia a constitucionalização do país e a saída do interventor nomeado por Getúlio Vargas. Seus nomes se tornaram um símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932 e são homenageados em diversas ruas, praças e monumentos no estado de São Paulo.
- Mário Martins de Almeida: Filho de cafeicultores, não era estudante e estava apenas de passagem pelo local da manifestação quando foi morto.
- Euclides Bueno Miragaia: Era de São José dos Campos e trabalhava no cartório do tio em São Paulo.
- Dráusio Marcondes de Souza: O único estudante do grupo, tinha apenas 14 anos quando foi morto.
- Antônio Américo de Camargo Andrade: Não era estudante, era casado e tinha três filhos. Seu pai era fazendeiro na região de Amparo, no interior de São Paulo.
A morte desses jovens, transformados em mártires da causa constitucionalista, teve um forte impacto na mobilização da população paulista contra o governo Vargas e contribuiu para a eclosão da Revolução de 1932. Embora não fossem todos estudantes, como divulgado pela imprensa da época, a imagem dos "jovens estudantes" mortos pela "ditadura" foi utilizada para fortalecer o movimento e construir uma narrativa de heroísmo e sacrifício em torno da causa paulista.
A Revolução e Seus Impactos Imediatos na Educação
Durante o conflito, muitas escolas foram transformadas em hospitais ou quartéis, interrompendo as aulas e envolvendo professores e alunos na luta. No entanto, a Revolução também plantou as sementes para mudanças significativas na educação paulista.
Do Campo de Batalha ao Currículo Escolar: A Evolução do Ensino da Revolução de 32
Décadas de 1930 e 1940: A Revolução de 32 rapidamente se tornou um tema central nas aulas de história e educação cívica, enaltecendo o heroísmo paulista e a importância da constituição.
Décadas de 1950 e 1960: O feriado de 9 de julho foi institucionalizado, com desfiles e eventos cívicos, solidificando a Revolução na memória coletiva e impulsionando reformas educacionais em busca de modernização e qualidade.
A Revolução no Currículo Moderno: Tecnologia e Novas Abordagens
Hoje, a Revolução de 32 continua presente nas escolas paulistas, com o uso de documentários, filmes e recursos interativos para tornar o aprendizado mais envolvente. Projetos educacionais incentivam a pesquisa e a reflexão crítica sobre o evento, conectando-o a temas como cidadania e direitos humanos.
O Feriado de 9 de Julho: Uma Ponte Entre o Passado e o Futuro
O Dia da Revolução Constitucionalista é mais do que uma data comemorativa. É um momento para refletir sobre as causas e consequências do conflito, sobre as diferentes perspectivas e interpretações, e sobre a importância da democracia e da participação cidadã.
A Revolução e a Criação da USP: Um Legado para a Educação e a Ciência
A Revolução de 32 também impulsionou a criação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, concretizando o sonho de intelectuais paulistas por uma instituição voltada para a alta cultura e a pesquisa científica.
Considerações Finais: Um Legado Multifacetado
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um evento complexo, com múltiplas interpretações e impactos duradouros. Seu legado na educação paulista é inegável, moldando a forma como as novas gerações aprendem sobre a história do estado e do país, e inspirando a busca por um futuro mais justo e democrático.
Fontes:
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